Link da reportagem - Correio Braziliense

foto: Daniel Beltra/Greenpeace/Divulgação

 

A grande quantidade de queimadas na Amazônia recentemente fez com que o mundo virasse os olhos para o Brasil, desencadeando, inclusive, crises políticas e diplomáticas. Isso porque os danos ocorridos na floresta — boa parte dela em território brasileiro — podem desencadear problemas para todo o planeta. Em um estudo publicado na revista Scientific Reports, pesquisadores brasileiros mostram que os incêndios nos trópicos estão ligados ao derretimento das geleiras andinas. Por meio de uma série de cálculos e projeções, os investigadores mostram que aerossóis gerados pela queima de biomassa podem intensificar o derretimento do gelo.

Newton de Magalhães Neto, pesquisador do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e principal autor do estudo, explica que a pesquisa foi motivada por dados que revelaram como emissões geradas pela queima de combustível fóssil em regiões vizinhas eram transportadas para o Ártico e para a Groenlândia, contribuindo para o derretimento do gelo nessas áreas. “Imaginamos que as queimadas geradas na Amazônia também poderiam gerar efeito nas geleiras dos Andes devido a sua proximidade”, conta ao Correio.

No estudo, Newton de Magalhães Neto e sua equipe, que contaram  com a participação de cientistas franceses, usaram dados coletados entre 2000 e 2016 sobre incêndios, movimento da fumaça pelo vento, precipitação e derretimento de geleiras. Eles descobriram que os aerossóis gerados pela queima de biomassa, como o carbono preto, podem ser transportados pelo vento para as geleiras andinas tropicais. Lá, são depositados na neve e têm o potencial de aumentar o derretimento das geleiras. Isso acontece porque a neve que é escurecida pelo carbono preto ou pelas partículas de poeira reflete menos luz — o que compromete um fenômeno chamado albedo. “O albedo é o que impede que as geleiras derretam. Se ele diminui, é muito mais fácil que elas se deteriorem”, detalhou o pesquisador brasileiro.

Fase crítica

Os pesquisadores resolveram dar foco aos anos de 2007 e 2010, períodos em que a região amazônica mais sofreu com as queimadas. “Analisamos uma base de dados oficiais. Com ela, identificamos as regiões que mais queimavam na Amazônia. Usamos um modelo de transporte que consegue prever o quanto do material gerado pelas queimadas pode ser depositado sobre as geleiras e, dessa forma, contribuir para o seu derretimento”, detalha o cientista brasileiro.

A análise mostrou que apenas o carbono preto ou a poeira tem o potencial de aumentar o derretimento anual das geleiras em 3% a 4%. Quando ocorrem juntos, a taxa sobe para 6%. Em situações de alta concentração, a poeira sozinha pode aumentar o fenômeno em 11% a 13%. O carbono preto, em 12% a 14%. “Escolhemos essa região para ser analisada porque ela está próxima da Amazônia, mas também porque é uma das áreas que mais temos dados. Então, podemos trabalhar com um número mais amplo de informações. Vimos, por meio dessa análise, que, realmente, o efeito nessa área pode ser muito grande”, destaca.

Segundo a equipe de pesquisadores, há a possibilidade de o aumento da demanda global por alimentos agravar o problema. Ele pode resultar em maior expansão da agricultura e do desmatamento da floreta amazônica, culminando na ampliação das emissões de carbono preto e CO2, que, como mostra a pesquisa, impactam as geleiras andinas. “A mensagem que o estudo passa é mais uma vez a necessidade de preservação desses territórios. Precisamos preservar as florestas e evitar sua queima de todas as formas possíveis”, frisa Newton de Magalhães Neto.

Invasores na Antártica 

A excessiva presença do homem pode prejudicar a rica biodiversidade da Antártica, segundo um estudo britânico divulgado, nesta semana, na revista Science Advances. De acordo com autores, com as mudanças climáticas, atividades como o turismo facilitam que espécies invasoras se estabeleçam na região. A grande quantidade de espécies é preservada por um equilíbrio entre o frio extremo e o isolamento de uma massa terrestre cercada por correntes oceânicas poderosas.

“Uma mudança climática reduz a barreira de entrada (dos invasores)”, explica, em comunicado, Peter Convey, especialista do Instituto de Pesquisa British Antarctic Survey e coautor da pesquisa. A estimativa é de que mais de 100 tipos de espécies invasoras estejam na região. Um tipo de grama chamado Poa annua já fincou raízes em algumas ilhas, assim como duas espécies de mosca levadas pelo homem. “O ponto principal é que os humanos trazem 99% das espécies invasora”, frisa Convey. 

Segundo o cientista, milhares de pesquisadores e 50 mil turistas visitam o continente remoto a cada ano. No caso das mudanças climáticas, a estimativa é de que, mantido o atual nível de aquecimento global, uma área de terra que já está sem gelo na península Antártica, no oeste, aumente seu tamanho em 300% no próximo século. “Isso significa que qualquer espécie invasora terá muito mais terras para colonizar”, ressalta o cientista. 

Com mais terra e água disponível, também é provável que se intensifique a competição por recursos entre espécies. Para os investigadores, é necessário repensar as atividades humanas na região urgentemente. “A exploração marinha histórica, a mudança no uso da terra e as invasões biológicas vão, provavelmente, continuar gerando impactos imediatos muito maiores nos ecossistemas antárticos do que as mudanças climáticas em si”, justifica Peter Convey. 

Impactos também locais  

Os impactos locais da relação entre os incêndios na Amazônia e o derretimento de geleiras nos Andes também são lembrados pelos pesquisadores. “Sabemos dos danos da fumaça para quem mora próximo a essas áreas. Além disso, o derretimento das geleiras pode causar uma crise hídrica. Temos uma população vivendo nessa área que depende dessa reserva de água, que pode ser perdida”, explica Newton de Magalhães Neto, autor principal do estudo.

A equipe tem a intenção de dar continuidade ao trabalho. “Queremos analisar outras regiões, entender o impacto desses elementos em outros locais e revelar as possíveis consequências para poder criar alternativas que possam evitar possíveis prejuízos. Mas, para isso, precisamos de financiamento”, diz o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Para José Francisco Gonçalves, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa brasileira revela dados interessantes e reforça a necessidade de preservação das matas. “Esse estudo mostra uma análise extremamente inovadora, altamente qualificada e que ajuda a entender ainda mais os efeitos que as mudanças climáticas podem causar. Nesse caso, principalmente por causa das queimadas”, diz. “Fica muito claro que os efeitos não são só regionais, eles se expandem e chegam até os Andes. Vemos que não é só a Amazônia que sofre com os incêndios.”

O professor da UnB também ressalta que os danos causados pelo derretimento das geleiras podem ser extremamente cruéis. “Os efeitos podem ser catastróficos, a presença desse carbono preto e da poeira pode fazer com que surjam inundações e também resulta na diminuição da reserva de água nessas regiões. Isso pode provocar um grande desequilíbrio e prejudicar a população”, relata.

Para José Francisco Gonçalves, mais pesquisas sobre o tema são necessárias, pois fortalecem os alertas feitos constantemente pela comunidade científica quanto à importância da preservação do meio ambiente. “Esses dados são um reforço ainda maior para algo que repetimos sempre e que precisa ser levado a sério: é muito importante evitar os danos causados pelas mudanças climáticas, pois eles podem acarretar em enormes prejuízos para o mundo inteiro”, frisa. 

 

Reportagem de Vilhena Soares

Exibida em 22 de julho de 2019, no programa Bom Dia DF, a reportagem da Rede Globo fala sobre como o Rio Melchior está cheio de lixo, poluição e mau cheiro. O coordenador do projeto AquaRiparia e pesquisador da Universidade de Brasília, José Francisco Gonçalves Júnior, explica que são muitos efeitos da degradação e da desordem humana no cuidado com o meio ambiente.

 

Acompanhe a reportagem:

PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO ARAGUAIA

14 A 30 DE JANEIRO DE 2019

 Prezada comunidade acadêmica, é com grande satisfação que faço um breve relato sobre a Expedição Biguá, desenvolvida entre os dias 14 a 30 de janeiro de 2019 na Planície de Inundação do Rio Araguaia. Percorremos cerca de 1.556 km de rio (percurso de ida e volta), compreendendo pontos de coleta no canal principal do Rio Araguaia, 50 lagos e cinco afluentes (Rio Vermelho, Rio do Peixe, Rio Crixás, Rio Cristalino e Rio das Mortes). A escala espacial da Expedição Biguá abrangeu desde a cidade de Aruanã-GO até quase o final da Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo.

Este estudo foi financiado pela FAPDF (Edital Demanda Espontânea Nº04/2017 - http://www.fap.df.gov.br/) e contou com suporte logístico/financeiro do Programa de PósGraduação em Ciências Ambientais (PPGCA - http://fupunb.wixsite.com/ppgca), Faculdade UnB Planaltina (FUP - http://fup.unb.br/), AquaRipária (http://www.aquariparia.org/) e Environmental Isotope Studies (EIS - https://www.eisunb.com/).

Coletamos informações ambientais e biológicas capazes de dar subsídio a dez estudos principais (vejam títulos provisórios abaixo) além de outros tantos secundários:

1. Biomagnificação de mercúrio na cadeia trófica do Rio Araguaia;

2. Diversidade da comunidade fitoplanctônica do Rio Araguaia;

3. Diversidade de bactérias magnetotáticas no Rio Araguaia;

4. Produção de Gases do Efeito Estufa nos Sedimentos Fluviais e Lacustres: Contribuições na Fronteira das Mudanças de Uso/Cobertura do Solo;

5. Balanço de carbono no Rio Araguaia;

6. Dinâmica da comunidade zooplanctônica na Planície de Inundação do médio Araguaia;

7. Fatores determinantes da diversidade beta das comunidades de macrófitas aquáticas na Planície de Inundação do Rio Araguaia;

8. Homogeneização dos hábitos alimentares em comunidades ribeirinhas;

9. Padrões espaciais de macroinvertebrados associados a macrófitas aquáticas na Planície de Inundação do médio Araguaia;

10. Caracterização fisico-química e qualidade da água na Planície de Inundação do Rio Araguaia.

A equipe de campo foi formada por dois docentes (Ludgero Vieira/UnB-FUP e Priscila Carvalho/UFG), oito doutorandos (Ana Caroline de Alcântara Missias/PPGCA-UnB/FUP, Clara Nina Rodrigues Nunes/PPGCA-UnB/FUP, Lilian de Castro Moraes Pinto/PPGCA-UnB/FUP, Leonardo Fernandes Gomes/PPGCA-UnB/FUP, Cleber Nunes Kraus/PPGCA-UnB/FUP, Regina Célia Gonçalves/Ecologia-UnB/IB, Flávio Roque Bernardes Camelo/Ecologia-UnB/IB e Ludmila Caetano/ Inst. de Geociências/UFF), um mestrando (Leonardo Beserra da Silva/PPGCA-UnB/FUP) e três alunos de graduação/Iniciação Científica (Paulo Henrique Araújo Dias/Gestão Ambiental/UnB/FUP, Thallia Santana Silva/Gestão Ambiental/UnB/FUP e Igor Nunes Taveira/Ciências Biológicas/UFRJ).

Além dos pesquisadores, compôs a equipe de campo: (i) a jornalista Serena Veloso Gomes, que brilhantemente fez a cobertura da Expedição Biguá, atuando inclusive na coleta de informações da população ribeirinha e (ii) o grande cozinheiro da FUP, Stanislau Pinto Brandão, "Sr. Brandão"! Em todos os dias, o Sr. Brandão acordava por volta das 04:00 horas da madrugada, às 06:00 o café da manhã estava pronto, às 10:00 o almoço era servido e às 18:00 o jantar estava à mesa! Sempre com um grande sorriso no rosto, o Sr. Brandão "mimou" todo nosso grupo, tanto com comidas deliciosas quanto com seu carisma.

Apesar do trabalho árduo, que iniciava às 06:30h e terminava por volta das 19:30h (com exceção de um grupo, cuja rotina diária frequentemente chegava até às 22:30h), toda equipe trabalhou com muito entusiasmo e dedicação ímpar! Esperamos que estes projetos somem com as demais atividades desenvolvidas na FUP e colabore com o estabelecimento e maior qualificação de nossos programas de Mestrado e Doutorado (rumo ao tão sonhado Conceito 5 da CAPES em 2021). Um agradecimento especial vai para a direção da FUP, para o Joaquim e Salgado, que continuamente vêm nos ajudando das mais diversas formas possíveis! Segue abaixo algumas fotos retratando um pouco tudo o que foi desenvolvido.

Muito obrigado a todos!

Ludgero Vieira

 

Na edição nº 21 da Revista Darcy também há uma reportagem sobre a Expedição Biguá (págs 28 - 35). Para visualização acesse o link: Revista Darcy nº 21

Vídeo sobre a expedição:

 

 

A reportagem do Hora 1, exibida no dia 16 de abril de 2019, traz as questões do novo decreto nº 9.760, de 11 de abril de 2019 que mantém a previsão de que multas ambientais podem ser convertidas em serviços de preservação e recuperação do meio ambiente e cria o núcleo de conciliação. Especialistas fazem algumas ressalvas e dizem que não esá muito claro como vão funcionar esses núcleos de conciliação e também duvidam que os conciliadores vão dar conta dos milhares de processos administrativos que são abertos todos os anos.

O coordenador do projeto AquaRiparia e pesquisador da Universidade de Brasília, José Francisco Gonçalves Júnior, fala sobre o perigo dessas decisões, que podem fragilizar as áreas de proteção permanente. Acompanhe a reportagem:

 

 

 

 

A reportagem do Jornal da Globo em parceria o Globo Natureza traz discussões envolvendo a utilização e a falta de água para irrigação de lavouras. O Brasil é um dos 10 países que mais consomem recursos hídricos na agricultura e deve ter um crescimento de 45%. Para isso dar certo sem esgotar a matéria prima, a construção de barragens é uma boa opção, que pode ajudar a melhorar a vazão dos rios. O coordenador do projeto AquaRiparia e pesquisador da Universidade de Brasília, José Francisco Gonçalves Júnior, fala sobre a preservação do Cerrado, conhecido como berço das águas.

 

Acompanhe a reportagem: